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 A diversidade cultural do Brasil-
Nossa colcha de retalhos.

Um projeto do Lottery Heritage Fund

O projeto Weaving our History in a quilt, ofereceu educação sobre o patrimônio cultural por meio de uma forma de arte nativa que envolveu 56 crianças e jovens e 15 pais com ascendência brasileira morando em Londres em uma colaboração criativa que desenvolverá uma Colcha de História na tradição de "Bordadeiras". A colcha final foi exposta  dias em  locais de importância cultural para a comunidade brasileira residente em Londres

 

Ao longo de 20 sessões, educadores especializados ensinaram história e técnicas de tecelagem para mães e filhos em reuniões regulares no Clube dos Brasileirinhos. Eles aprenderam a história e herança do bordado e a tradição do “Bordadeiras” de um lugar chamado: “Vale do Jequitinhonha”, que se situa em "Minas Gerais"  na região Sudeste do Brasil. As famílias  criaram uma mostra de bordados, a Colcha da História, que resumiu a história do bordado brasileiro em uma obra de arte.

 

No processo, as crianças aprenderam os fundamentos da tecelagem, bordados, acabamentos e os desenhos de "pintura" feitos pelas tecelãs. Durante as oficinas, os instrutores treinaram os participantes nas técnicas de tecelagem e na cultura das tecelãs de Vale do Jequitinhonha. Esta é uma forma de tecer e uma cultura que se estabelece a partir da confluência de três povos distintos: os portugueses, os africanos e os indígenas. As sessões foram  conduzidas por Liliane Benevenuto Lemos, artesã e pesquisadora em arte têxtil, educação e cultura brasileira. A partir do aprendizado da arte da tecelagem, os participantes também aprenderam sobre a história das tecelãs, significados dos desenhos tradicionais, modo de vida quilombola, cantos de trabalho, versos, cirandas, gestos de tecer e ritmos que fazem parte da cultura local no Brasil.


Durante esta experiência de aprendizado imersivo, os participantes criaram a arte final da colcha que foi estruturada em uma linha do tempo de três partes que fazem referência a períodos significativos da história recente do Brasil; legado indígena, português e africano e imigração europeia. Eles coletaram informações e desenhos que foram incorporados manualmente como motivos visuais bordados e símbolos de cada período. A principal mensagem que queremos que as crianças e os jovens levem é a unidade alcançada através da diversidade, que é um presente único e significativo que o Brasil oferece ao mundo. A narrativa educacional fará referência a diversas etnias, comidas, músicas, costumes, espiritualidade e dança. Ao mesmo tempo, aprofundará a tradição das “bordadeiras” e equipará os participantes com habilidades práticas que mantêm viva esta herança cultural na diáspora brasileira. Este Projeto  costurou a História do Brasil e a tradição do bordado em uma colcha.

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A diversidade cultural do Brasil

 Nossa colcha de retalhos

De acordo com o antropólogo Darcy Ribeiro, o Brasil é um dos países mais miscigenados do mundo. Com mais de 300 povos indígenas (FUNAI), 54% da população atualmente negra (IBGE) e a chegada de pessoas de distintos países do mundo no Brasil, o brasileiro carrega em si um colorido único - como uma grande colcha de retalhos. Uma colcha sempre viva e em constante formação e transformação, unindo retalhos tão diversos num conjunto só. E quanto mais cores agrega, mais exuberante fica a composição. Pensando nisso, no ano de 2021, o Clube dos Brasileirinhos decidiu investigar e celebrar a riqueza da identidade cultural brasileira para fomentar o aprendizado da língua portuguesa como língua de herança e a compreensão de nossa ancestralidade. 

A trajetória de aprendizado através de nossa identidade cultural e linguística se organizou através de três eixos temáticos: o Legado dos povos originários, o Legado dos povos africanos e o Legado dos imigrantes modernos.  Cada um destes eixos foi trabalhado durante um trimestre do ano letivo.

A partir de sua complexa configuração no território promoveu uma viagem pelas particularidades de cada canto do nosso país. Esta viagem proporcionou a investigação de elementos da nossa língua como também da arte, música, vestimentas, culinária, utensílios, costumes, estórias, mitos e entre tantos outros aspectos que remontam a nossa ancestralidade.

Em cada ciclo, as crianças e adolescentes produziram um trabalho individual, onde registraram seu aprendizado e traduziram seus novos saberes através da arte em um pequeno retalho de algodão. Dessa maneira, foram elaboradas três colchas de retalhos, uma para cada eixo temático. 

Assim, esta instalação representa o momento da celebração da diversidade, quando cada retalho se expressa e faz sentido num todo maior que acolhe e transborda mais significados. A aprendizagem destes conteúdos nunca termina e continua na contemplação e fruição da obra coletiva exposta. E para além, na troca de diálogos fortuitos entre corredores com familiares e amigos.

Nossa colcha de retalhos celebra a escala da diversidade brasileira e também a contextualiza convidando todos os participantes falantes do português como língua de herança a um mergulho em nossa brasilidade.

Exposição de Bordados e tecelagens no círculo

O projeto de tecelagem e bordado realizado com as mães das crianças do Clube dos Brasileirinhos teve como inspiração as mulheres tecelãs do Vale do Jequitinhonha. Especificamente, as tecelãs da comunidade de Tocoiós em Francisco Badaró e do Quilombo Roça Grande em Berilo, Minas Gerais. Visto que estas mulheres tecem desde criança aprendendo o ofício com suas mães e o transmitem de geração em geração. Deste modo, as tecelãs preservam toda uma sabedoria e tradição comunitária da arte de tecer e conviver juntas em períodos felizes e difíceis da vida. Seguindo os ritmos das estações do Médio Vale do Jequitinhonha, elas plantam nos períodos das cheias, quando chove intensamente e tecem nos períodos da seca, quando a chuva é escassa e as tecelãs não tem como plantar e sobreviver da roça. Tecendo elas se encontram, reúnem alegrias e tristezas; se ajudam trocando aprendizados e apoio mútuo. Juntas elas fiam, batem os fios, tingem, tecem, cantam versos, dançam cirandas e cuidam dos filhos, de outras mulheres e da comunidade. "Com as mãos em ofício e arte, a tecelã fia o seu canto para a tessitura da vida. Em seu trajeto antropológico, ela tece a si mesma com fio colorido de sua tradição, desdobrando de si, a sua ancestralidade que pulsa e lhe convida a se realizar em sua poética das mãos e da alma." (Lemos,2020,p.219) 


 

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Tecelagem no círculo

A tecelagem é sempre um processo de aprendizado de equilíbrio de contrários, um fio por cima, um fio por baixo e novamente um um fio por cima e outro por baixo. Assim, a trama do tecido vai se formando enquanto envolve todos os fios da urdidura. Intercalando os fios vamos construindo uma trama coesa, forte e firme - capaz de nos aquecer como os cobertores e acolher como as redes. As tecelãs de Roça Grande e Tocoiós tecem singelos objetos para acolher, proteger, carregar itens, aquecer e enfeitar os lares. Inspiradas pelas tecelãs do Vale do Jequitinhonha tecemos nos círculo dos bastidores de madeira usando fibras naturais e com as cores do Vale; tanto em seu período de chuvas, quando tudo é verdinho, quanto em seu período de seca, momento em que tudo é marrom cor de terra. Verde e marrom sempre acompanhados do azul intenso do céu. As mães das crianças do Clube escolheram sua combinação de cores do Vale do Jequitinhonha e juntas tecemos e revivemos no corpo os gestos tradicionais da arte de tecer.

 

Liliane Benevenuto Lemos e pais e mães do Clube dos Brasileirinhos: 

  • Adriana Passos

  • Anastacia Schwartz 

  • Anati Beddows 

  • Edgar Figueiredo Neto 

  • Franca Matta

  • Magda Garcia

  • Maria Teresa Gomes

  • Natália Furland

  • Patricia Gutierri

  • Patricia Rocha

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Bordando memórias da infância no Brasil

Neste projeto de pontos iniciais de bordado, as mães foram convidadas a relembrar suas infâncias e a elaborar um bordado pessoal, plasmando aquele momento único no tecido. Elas receberam um retalho de tecido colorido e juntas iniciamos um percurso pelas suas memórias. Em seguida, elas escolheram e fizeram o desenho de sua memória que guardava o momento mais feliz de sua infância e fomos juntas escolhendo os pontinhos para dar vida àquela lembrança. 

Cada uma, ao seu modo, escolheu as cores de seus fios e firmou a decisão de aprender a bordar. A mão, em sua infância de acordar novos gestos entre agulha e pano, nos conduziu neste bailado através de nossas lembranças em nossa terra natal tão distante. Muitas conversas, trocas, conselhos, causos, estórias, escutas -  encontros recheados de café com bolo e um dedinho de prosa. 

Assim, as lembranças brotaram e uniram os fios de nossa amizade e aprendizado em conjunto. E seguindo os ensinamentos das tecelãs do Jequitinhonha: convivemos e nos fortalecemos juntas, nestes possíveis encontros, fiando e confiando nossa tradição.

Na exposição vocês poderão ver os bordados que nasceram destes encontros e viajar ao Brasil através destas memórias felizes da infância. O arco-íris de cores intensas, sempre colorindo o céu no encontro comum entre chuva e sol dos trópicos. A igrejinha no alto do morro em dia de festa. O refúgio da menina nas muitas histórias dos livros. Refúgio e base assentando sonhos futuros. A árvore querida oferece sombra, proteção e abacates frescos para a menina. As brincadeiras de rua, amarelinha e bolhas de sabão expressando toda a liberdade do brincar livre nos interiores do Brasil. O mergulho no mar é aconchegante entre a areia dourada e a bênção do Cristo Redentor. E por fim, o espetáculo dos fogos no fim do ano vistos à beira mar, lá no longe brilhando e anunciando o Ano Novo.

 

           Liliane Benevenuto Lemos e pais e mães do Clube dos Brasileirinhos:  

  • Anastacia Schwartz 

  • Anati Beddows 

  • Edgar Figueiredo Neto 

  • Franca Mata

  • Magda Garcia

  • Maria Teresa Gomes

  • Natália Furland

  • Patricia Gutierri

  • Patricia Rocha

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Tecido circular de histórias

Contar histórias através dos tecidos é uma tradição milenar que acompanha a humanidade até os dias atuais. Esta tradição antiga é muito anterior ao uso do papel e, ainda hoje, atrai pessoas a bordar e tecer; florindo os tecidos do imaginário humano. No Brasil, os indígenas Huni Kuin (Kaxinawá) produzem tecidos com desenhos chamados kenes. Os kenes são vários motivos estampados em diferentes tecidos e usados em diferentes ocasiões. Estes motivos contam histórias, relembram fatos que aconteceram no passado, protegem espiritualmente, comunicam status pessoais e são transmitidos de geração em geração em sua cultura. 

A tecelã Natalina do Quilombo, de Roça Grande, me contou que os desenhos que ela realiza em sua tecelagem também são herança de seus antepassados afrodescendentes e indígenas. Ela tece os caminhos que os seus ancestrais escravizados faziam carregando pesados troncos num terreno íngreme e escorregadio, pois eram próximos de rios. Eles andavam em zigue-zague para não caírem. Assim, ela emprega o motivo do ziguezague belamente em seus tecidos transmitindo a sabedoria de sua ancestralidade.

Inspirados por esta ancestralidade de contar estórias pelo tecido, as crianças de 7 a 9 anos do Clube de Brasileirinhos e eu confeccionamos um tecido de histórias circular. Para isso ouvimos atentamente o mito: "As serpentes que roubaram a noite" escrito por Daniel Munduruku. Depois fizemos cobras com carimbos de estampas de triângulos e losangos. As cobras guardam a noite e os indígenas sofrem com sua ausência, pois não conseguem descansar. Assim, a lua foi representada por saquinhos transparentes com várias delicadezas têxteis como botões, linhas e retalhos (pequeno tesouro dos tecelões). As crianças também fizeram vários círculos de tecelagem, os quais juntos representam o sol. Convido todos vocês a conhecerem este encantador tecido de histórias e depois a conhecer este fascinante mito indígena.




 

Liliane Benevenuto Lemos

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Minha mini Biografia

Meu nome é Liliane Benevenuto Lemos, sou formada em Ciências Sociais na Unesp de Araraquara e realizei mestrado em Educação e Cultura na Universidade São Paulo. Minha pesquisa de mestrado resultou na dissertação: Fiando o canto: sabedoria e imaginação simbólica na tessitura da tecelã. Faculdade de Educação da USP. São Paulo, 2020. 

Esta pesquisa enveredou-se pelas tramas de compreender a sabedoria corporal e imaginação simbólica perceptiva existente no fenômeno de tecer que acompanha a humanidade desde tempos remotos. Na busca de compreender as imagens do universo do tecer em sua relação com os saberes, o feminino e a tradição. Assim, foi empreendida uma viagem ao Médio Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais para acompanhar o processo da tecelagem tradicional realizado pelas tecelãs no Quilombo Roça Grande em Berilo e na comunidade de Tocoiós em Francisco Badaró.

Sempre fui apaixonada pela cultura brasileira: sua musicalidade, culinária, brincadeiras, artesanatos, diversidade, literatura, festejos, gestualidade e tradições. Por isso juntei a antropologia com a educação em meu mestrado, amarrando estes interesses. 

No decorrer de minha trajetória, meus estudos, pesquisas e atuação como educadora convergiram na busca de uma educação sensível e de ancestralidade. Portanto, uma educação que integre a razão sensível e desperte os diferentes sentidos corporais e a busca da realização de si mesmo.Tendo sempre como horizonte nossa ancestralidade. Para tanto, dedico especial atenção em pesquisas que relacionem a corporeidade, percurso de aprendizado e a arte tradicional de tecer. Faço parte do grupo interdisciplinar de pesquisa PULA  https://www.pulaeefeusp.com.br/ e do Laboratório de arte educação da FEUSP: https://www.labarte.fe.usp.br/ ministrando cursos de bordado. Também, sou artesã, teço, bordo, costuro, entrelaço, brinco e imagino com os tecidos e as fibras naturais. Além disso, toco caixa junto com as Caixeiras das Nascentes em devoção ao Divino e nas festas populares.

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Opening of our exhibition at Willesden Green Library

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